Anedotas de gaúcho
1
Ele lustrou as botas que ficou um espelho e foi pro baile. À primeira prenda quetirou já foi anunciando que tinha poderes:
- Tu sabia que eu posso adivinhar a cor das tuas calças?
A moça só disse "Ué!" e ele lascou: "Amarela!", acertando na bucha. A fama do adivinhão correu rápido pelo baile e as moças todas queriam dançar com o gaúcho para confirmar o fenômeno. E ele só curingando as botas e matando: azul! cor-de-rosa! verdinha!
Até que uma mocinha mais lasqueada, moderninha, resolveu tirar um sarro da cara do índio. Despiu as calças no banheiro e, na dança, desafiou:
- Então é o senhor que adivinha a cor das calças das moças? Quero ver adivinhar a minha!
A gaita roncou e dois saíram bailando, o índio já meio tonto de tanto arrodear e cuidar as botas. De repente, berrou:
- Pára a gaita, gaitero! Pára a gaita que eu quero saber quem foi que deu um talho nas minhas botas!
2
Esta sim, só em anedota mesmo: os catarinenses andam dizendo que são barrigas-verdes porque os gaúchos têm limo nas costas...
3
Outro namoro firme na sala e o velho desconfiado.
- Escuta, tu tá namorando minha filha há dias e até agoranada. Com que intenção tu tá?
- Pois é, seu Bezerra. De momento eu não posso assumir compromisso, o senhor sabe como é, a coisa tá difícil, o dinheiro curto...
E por aí foi na cantinela mais manjada dos tempos de antanho e atuais. O velho, que por sinal era meio cata-cego dos olhos, acreditou e ficou satisfeito com a explicação.
Na volta pra casa o rapaz vinha num campo aberto, bagos estourando do arreto com a namorada, e resolveu tirar os atrasados com uma ovelha mesmo. Não achando nenhuma, se atracou num carneiro, agarrado nas guampas do bicho e dê-lhe que te dê-le.
Nisso vinha o velho descendo uma coxilha e viu a cena, bem quando o carneiro sentiu o rojão e saiu correndo com o guasca entalado atrás, ainda mais agarrado nos chifres para não cair. Mui chateado, o velho lá de trás da sua miopia:
- Ah, fiadaputa! Pra casar tu não tem dinheiro, mas pra comprar motociclo tu tem!
4
O gauchão, passeando no Rio, entra num bar, acomoda-se numa mesa, chama o garçom, faz o pedido e fica se gabando:
- Olha só que bombacha, índio velho. Cento e cinquenta botão. Custou 50 mil. Tô mal de bombacha, hêin?!
O garçom ri amarelo, busca o aperitivo e na volta o gaúcho:
- Olha que bota, tchê! Toda sanfonada. Custou 40 mil. Mal de bota, hêin?!
Puto da cara, o graçom tá que não agüenta mais. Por sorte sua, um colega conhece o exibicionista e sabe coisas da família: - Chega no gaúcho, pergunta como vai a irmã dele e diz que ela é a maior piranha que você já conheceu.
Feita a sacanagem, o gaúcho continua impávido e, cofiando o bigode, brilha um pouquinho o olho e responde:
- Mas a Lindoca não puteia mais, seu. Virou freira e agora é esposa de Cristo Nosso Senhor.
E arremata: - Tô mal de cunhado, hêin?!
5
Grosso, machão, entrou na sala de espera do consultório médico declarando que seria o primeiro a ser atendido - e quem não gostasse que fosse reclamar pro bispo.
Dentro do consultório, o médico tentava pela vigésima vez agarrar a enfermeira. Quando a moça saiu esbaforida porta afora com o doutor correndo atrás, de cajardo na mão, o susto na sala foi tão grande que o esculápio só souber perguntar:
- Quem é o próximo?
E o nosso machão, mui respeitoso: - Pois até nem sei, seu doutor. Chegamo tudo meio entreverado.
6
O gaúcho foi a uma dessas galerias onde só tem consultório, lanchonete, escritório, entrou no elevador e mandou tocar pro oitavo andar. No saguão, olhou pra direita e pra esquerda e ficou indeciso entre os dois compridos corredores com vinte portas cada, todas com sua plaquetinha e a inscrição "Doutor Fulano, especialista nisso e naquilo", "Doutor Beltrano, atende de tal a tal hora". tantas que meio se confundiu. Andou um pouco e quando soletrou numa das placas o nome do doutor Alfredo, pensou: é aqui! E entrou.
A sala de espera vazia, foi atendido logo.
- Pois veja doutor, o meu ovo esquerdo, o meu testículo, como se diz, está inchando cada dia mais. Até tá dando na vista quando a bombacha é poco folgada. O que é que o senhor me diz, doutor?
Coçando o bigode, divertido, doutor Alfredo explicou: Alfredo urologista é na porta da frente. Eu sou causídico, formado em Direito.
O gaúcho aceitava bem a explicação, muito calmo, até que ouviu as últimas palavras:
- Mas onde que tamo que até pra bago tem que ter lado certo pra consultar?
7
O gaúcho prestou grandes favores a um industrial carioca e foi convidado a passar alguns dias na mansão do milionário no Rio. Tanto recusou os convites que o carioca mandou buscá-lo em seu jatinho particular. Aí o índio não resistiu e se mandou pra cidade maravilhosa.
Saiu do aeroporto direto para uma Mercedes último tipo, todo automático,vom botão pra baixar vidro, subir antena, bar embutido, televisão, telefone, o índio babando no lenço de admiração. Quando reparou no símbolo da Mercedes na frente do carro, perguntou pro motorista para queservia aquilo e o negrão, bom gozador, inventou que era a mira do veículo. Pra mostrar na prática pra que servia, apontou um velhinho que ia atravessando a rua e falou:
- Vou acertar ele em cheio olhando pela mira.
Acelerou o carrão e quando chegou a centímetros do pedestre, desviou. Já ia dar uma gargalhada do susto que devia estar o gaúcho quando ouviu um baque no lado do carro. Olhando pra trás, viu o desgraçado do velho todo quebrado no meio da rua. E o gauchão explicando:
- Ôta, que se eu não abro a porta ele nos escapava!
8
O gauchão entra no banco e vê o maior rebuliço.
Todo mundo procurando alguma coisa no chão. Só outro gauchão está paradão, firme, nem te ligo, indiferente ao nervosismo geral.
- O que houve aqui, tchê? pergunta o recém chegado pro outro.
- Foi um estancieiro que perdeu um cheque de quinhentos milhão e tá todo mundo procurando - responde o outro pro recém-chegado.
- Ué, e por quê tu não te mexe também?
- Porque o cheque tá debaixo da minha bota!