Guardião da Pulperia

Lá pros lados da campanha, onde o tempo se espicha e o vento anda de a cavalo, existia uma pulperia velha… daquelas de madeira gasta, rangendo com o sopro do minuano.

E bem na frente dela, todo santo dia, tava o Dom Florêncio. Um gaúcho de respeito, desses de rastro firme e olhar que já viu de tudo um pouco.

Chegava cedo, com o laço ajeitado, o pala nas costas e os dois cuscos companheiros rente às pernas. O zaino, sempre quieto, esperava com o freio solto e a chilena cruzada.

Ninguém sabia ao certo se ele era dono da pulperia… mas também, ninguém ousava dizer que não era. Porque Dom Florêncio não mandava com palavra — mandava com presença.

Dizem que já cruzou campo e sanga, serra e planura… Mas sempre voltava pra ali.
Praquele pedaço de chão onde o mate é quente, a prosa é boa e a tradição não se entrega.

Hoje, mesmo que o tempo tenha levado muita coisa… quem passa por lá jura que ainda sente.
O cheiro de couro, o trote do cavalo… e o silêncio respeitoso de quem guarda, com alma e honra, a essência da vida campeira.